O músico e cantor Jon Batiste sempre nutriu o desejo intrínseco de utilizar sua música como meio de cura, transcender barreiras musicais, culturais e políticas. Tais temas foram importantes e evidentes em seu álbum vencedor do Grammy do Ano em 2021, intitulado “We Are”, uma produção pop que harmoniza gêneros, enriquecida pela profundidade do jazz e pelas raízes do R&B de Nova Orleans, que são marcas poderosas de Batiste.
Agora, em 2023, com seu novo projeto “World Music Radio”, ele se lança mais uma vez na busca por transcender fronteiras. O álbum é permeado pela fusão de soul e ritmos dançantes, reminiscente da estética que poderia ter sido utilizada por Stevie Wonder na década de 1980, mas enriquecido pela assinatura contemporânea de Batiste e suas harmonias de jazz intrínsecas. Uma jornada vagamente conceitual, “World Music Radio” é imaginada como a transmissão do DJ de rádio intergaláctico Billy Bob Bo (dublado por Batiste), com uma forte mensagem que conclui o álbum de forma impactante.
É possível observar inspirações no Stevie Wonder em faixas como a “Calling Your Name”, onde toques de gaita e sintetizadores sutis se entrelaçam em um cenário adulto-contemporâneo. A vibração disco dos anos 70 surge em “Call Now (504-305-8269)”, que traz o pai do pianista, Michael Batiste, estabelecendo um groove com pegada de baixo funk. A participação de convidados é uma constante, incluindo nomes como JID, NewJeans e Camilo, que somam suas vozes ao alegre pop-reggae de “Be Who You Are”. Jon Bellion e o rapper nigeriano Fireboy DML trazem uma injeção edificante de emoção à faixa com inflexões afro-beat intitulada “Drink Water”.
Mais colaboradores de destaque deixam sua marca no álbum, incluindo Lana Del Rey, que compartilha um dueto emocional em “Life Lesson”, enquanto Lil Wayne aparece em “Uneasy”. Até mesmo o icônico saxofonista Kenny G empresta seu som suave a uma breve interpretação de “Clair de Lune”. Apesar dessa diversidade de colaborações e mudanças de estilo, “World Music Radio” mantém uma coerência notável. A produção exala uma vibração orgânica e experimental que unifica de maneira palpável as influências jazzísticas e pop de Batiste. Essa sonoridade também reflete uma sensação de profundidade emocional, possivelmente enraizada em anos desafiadores.
Em 2021, durante o período em que sua esposa, a escritora Suleika Jaouad, enfrentava uma recorrência de leucemia que culminou em um transplante de medula óssea, Batiste encontrou conforto na composição de canções para o projeto. Uma delas, a delicada balada de piano “Butterfly”, que soa como um abraço caloroso dentro do álbum “World Music Radio”, emergindo como um dos momentos mais marcantes. Outras faixas, como a espontânea “Wherever You Are” com nuances gospel (que parece ter sido capturada ao vivo em uma igreja) e “White Space” (uma balada de piano impressionista e cadenciada na qual Batiste murmura por meio de um vocoder), revelam uma intimidade singular.
São nesses momentos mais íntimos dentro de “World Music Radio” que Batiste evoca a sensação de tocar em seu lar ou cantar diretamente para um ente querido. Isso atesta que seu desejo de curar o mundo deriva de uma fonte profundamente pessoal, ressoando de maneira autêntica em cada acorde e nota do álbum.
NOTA: 5/5