O Rio de Janeiro foi uma das cidades escolhidas para receber A Gira Final de Emicida, dada a importância desse local para tudo que fez parte na trajetória do artista, desde 2006, quando não tinha nada. Foi esse lugar que o acolheu desde o princípio, e por isso, o encerramento deste capítulo tão lindo não deixar de passar nesse lugar.
A entrada de Emicida no palco foi catártica. “É tudo pra ontem” foi a canção que deu início a essa linda noite, já estabelecendo um forte laço entre o artista e seus fãs. Emicida quis mostrar seu talento para além da rima e fez uma apresentação delicadíssima de flauta, antes de “A Ordem Natural das Coisas”. O coro da plateia fez com que o espetáculo atingisse seu objetivo maior – fazer com que todos se sentissem parte de um culto, ou um ritual simbólico muito especial.
O primeiro convidado da noite chegou: Miguelzinho do Cavaco foi recebido e muito ovacionado, e participou das apresentações de “Corra e Olhe o Céu”, “Quem tem um Amigo tem Tudo” e “A Amizade”, uma sequência de canções emotivas, criando um momento que promove o olhar delicado àqueles que estão ao seu lado.
O bloco inicial apresenta as canções do disco AmarElo como “Pequenas Alegrias da Vida Adulta” “9nha” com participação de Drik Barbobsa, e “Cananéia, Iguape e Ilha Comprida” e, de forma metalinguística, essa aqui também é uma forma de oração.
Em meio a essas apresentações, cada membro da banda tem sua oportunidade de brilhar, e como brilham! Teve solo de saxofone, de percussão, de bateria, e a guitarrista Michele Cordeiro trouxe vocais impecáveis em “Hoje Cedo”.
Esse bloco chegou ao fim com a faixa-título AmarElo, com o sample de Belchior enraizado no coração de todo brasileiro. Nesse momento, o espetáculo se mostra acima de tudo como um show de abraços e comunhão. Emicida promove a união como um de seus pilares artísticos, e nesse momento percebe-se que não há nada como receber um abraço apertado de pessoas amadas em um momento tão especial.
A mudança de cenário veio com uma iluminação intensa e vermelha, trazendo músicas que carregam um discurso de maior peso, como “Pantera Negra” que estava com uma energia surreal do público. Emicida fez uma pausa para um momento de discurso político, dada sua consciência do espaço que ocupa e da importância de sua voz. O artista fez uma declaração de apoio às famílias que perderam tudo no Rio Grande do Sul, e reforçou a importância do voto consciente, especialmente no que diz respeito às questões climáticas. O show então retomou à sua pegada forte, com apresentação de “Ooorra”, e uma viagem no tempo para 2008 com “Triunfo”.
Um dos momentos mais aguardados da noite chegou: a recepção dos convidados. O primeiro foi MC Marechal, o “professor da nossa geração” nas palavras de Emicida, que performou suas músicas “É a Guerra, Neguin” e “Favela Vive”. Depois dele, foi a vez de MC Cabelinho, que apresentou “Carta Aberta” e “X1”, e também aproveitou para endossar o discurso de vida nas favelas feito previamente por MC Marechal. Por fim, Emicida recebeu MC Rashid, que cantou “Confundindo sábios” e “Pipa voada”. Todos esses convidados tinham uma motivação importante para estar ali dividindo o palco com Emicida, e de quebra ainda criaram momentos maravilhosos para os que estavam presentes.
Na saída dos convidados, Drik Barbosa voltou ao palco para cantar “Mandume” com Emicida, e as apresentações solo retornaram com “Todos os olhos em nóiz”, voltando a assumir um ritmo frenético. A sequência de “Ismália”, “Levanta e Anda” e “Principia” fechou o capítulo AmarElo com chave de ouro, ainda com a honra de ouvir ao vivo o discurso poderosíssimo de Henrique Vieira presente na gravação da faixa.
O espetáculo se encaminhou para seu bloco final, revisitando faixas mais antigas da discografia de Emicida, com direito a palhinhas de covers como “Another Brick in the Wall” e “Rap da Felicidade”. Ainda no final, Mc Rashid retornou ao palco para uma batalha de rimas improvisada com Emicida, um momento lendário da noite em que os dois puderam mostrar suas melhores faces como artistas.
O encerramento se deu com o maior hit da carreira de Emicida, “Passarinhos”, acompanhado de um lindo coro do público, seguido de uma performance de “Emoriô”, em homenagem a João Donato. O público carioca recebeu infinitos agradecimentos pela participação e pelo acolhimento nessa jornada tão especial. AmarElo é um projeto coletivo, uma experiência de culto e fé através da música, construído como celebração da liberdade, do amor, da cura, da felicidade e da vida.