Lauryn Hill é uma em sete bilhões. Mesmo 25 anos após seu último e único projeto solo, sua relevância parece só crescer. Esse fenômeno ficou evidente no sábado (13), no Allianz Parque, em que Lauryn Hill fez a honra de ser headliner do Chic Show. O festival, que celebrava 50 anos de black music em São Paulo, teve quase todos os seus ingressos esgotados, e uma variedade expressiva de público.
A vinda de Lauryn Hill para o Brasil é digna de mover multidões – exatamente o que ocorreu no último fim de semana – pois sempre vale a pena. Seu reconhecimento vem de suas habilidades extraordinárias como rapper e vocalista, que acabaram culminando no “The Miseducation of Lauryn Hill”, eleito por muitos como um dos melhores álbuns da história. No entanto, presença no palco consegue ser melhor do que qualquer gravação em estúdio, e sua figura que emite notas vocais tão impecáveis é quase mística.
Foto: Stephan Solon – 13.jul.2024/Divulgação
A ausência de novidades em seu repertório não é problema algum, pois sempre há novas gerações ansiando por ouvir as faixas de seu grande disco ao vivo. A primeira parte do show foi dedicada ao Miseducation, com 8 faixas contempladas. Vale destacar a abertura com “Everything is Everything”, que mesmo com problemas técnicos de microfonagem não deixou de ser mágica.
Lauryn Hill brilha nas rimas com “Final Hour” e “Lost Ones”, e brinca com a métrica das gravações originais. A artista também dispõe de total controle sobre sua banda, que faz um esforço hercúleo para acompanhá-la, e o resultado é magnífico.
O destaque para seus vocais chega nas faixas “Ex-Factor”, um de seus maiores hits, e “To Zion”, com uma das melhores entregas ao vivo possíveis. A canção, uma homenagem linda ao seu filho Zion, já emocionante por si só, contou com elementos especiais. No cenário do palco, fotos e vídeos da infância de Zion que mostravam Lauryn como mãe e, como surpresa, a presença do próprio Zion, que se juntou à mãe no fim da apresentação. Impossível não se emocionar.
Foto: Stephan Solon – 13.jul.2024/Divulgação
Zion Marley também é artista e aproveitou o espaço para performar seu mais novo single “Best Of Me”. Seu outro filho, YG Marley, era convidado oficial do show e tomou conta do palco por ainda mais tempo, com destaque para sua música mais famosa “Praise Jah in the Moonlight”. Ambos produzem uma sonoridade mais próxima ao reggae, mas que agradou ao público mesmo assim.
É difícil elencar os melhores momentos de sua apresentação, porque foram muitos. No fechamento de seu bloco solo, a artista entregou uma performance divina, dessa vez acústica, de “Ex-Factor”, que deixou o estádio inteiro hipnotizado. Sem tempo para processar tamanha emoção, logo emendou em “Doo Wop (That Thing), daquelas que é impossível não conhecer.
O segundo convidado da noite era Wyclef Jean, membro do Fugees, grupo do qual Lauryn Hill fazia parte antes de seguir carreira solo. Os dois entraram num ritmo frenético das músicas do grupo, com destaque para “Vocab” e “How Many Mics”. Depois, Wyclef Jean assumiu o estrelato do palco e deu um show de resenha, com músicas autorais, cover de Bob Marley e seu feat com Shakira – quase tudo isso enquanto interagia com o público na passarela.
Os artistas enfim se juntaram para entregar uma sequência intensa dos 3 maiores hits do Fugees – “Killing Me Softly With His Song”, “Ready or Not” e “Fu-Gee-La”. O show se encerrou em clima de festa, com as luzes acesas durante a última música e o estádio inteiro pulando numa energia surreal, e em sintonia com a farra que também rolava no palco.
Foto: Stephan Solon – 13.jul.2024/Divulgação
Com 35 músicas e 2 horas de duração de espetáculo, Lauryn Hill mais uma vez fez história e mostrou ser a escolha perfeita para honrar todo o legado da black music. Vida longa!