O terceiro dia de Queremos e um dos mais aguardados realmente entregou o que prometeu. Dessa vez, os shows ocorreram na Marina da Glória, palco de muitos festivais renomados no Rio de Janeiro e também de grandes edições anteriores do Queremos.
Nabiyah Be, abertura do terceiro dia de Festival Queremos, é um nome para ficar de olho: a artista tem uma voz brilhante e uma presença de palco radiante. Exalando felicidade por estar no palco, a artista apresentou seu novo álbum “O QUE O SOL QUER”, lançado em fevereiro deste ano. A configuração do palco com iluminação, figurinos e sua banda estava ideal para que a artista introduzisse seu trabalho ao público, cantando entre português e inglês canções que emocionam mas que também fazem dançar. Foi uma ótima abertura da noite, e ela definitivamente ganhou novos fãs.

Anelis Assumpção subiu ao palco do Queremos com um figurino exuberante para celebrar a música da Jamaica que muito se mistura com a música do Brasil. O repertório Legalize It, grande símbolo do reggae, foi apresentado e mesclado com outras enormes obras do gênero, inclusive de Bob Marley.
Indo além do reggae jamaicano, Anelis e banda também trouxeram luz ao reggae brasileiro, apresentando “Negra Melodia”, de Jards Macalé, grande parceiro de seu pai Itamar Assumpção. Ambos artistas se configuram no grupo chamado “Malditos da MPB” devido a suas experimentações musicais não tão bem recebidas nas décadas de 70 e 80.
Como artista e como pessoa, Anelis sente que possui um grande compromisso em honrar memórias e esse show é uma linda e dançante celebração do reggae. Na plantação da semente do seu legado, ela encerra o show com suas canções autorais “Neverland” e “Rasta”, e também revela que sua filha está nos vocais da banda, o que representa uma continuidade a essa história digna de ser contada.

Na vez de representar o rap na variedade de gêneros do festival, Yago Oproprio deixou um pouco a desejar. Criou-se um forte contraste com os outros shows da noite, que eram mega produzidos e contavam com bandas de altíssima qualidade. O palco de Yago era minimalista, com ele, seu parceiro e suporte vocal Gabriel Sielawa, e a DJ responsável pelos beats Maah Fernandes — o problema é que nenhum deles tinha muita presença.
Embora ele seja um grande nome do rap contemporâneo que mora no fone de muitos jovens, o show não funciona para um festival em que ele não é a atração principal e o publico não é familiarizado com todas as músicas. O som de seu rap não é nada frenético e, ao vivo, acabam caindo numa monotonia, e a fraca participação do coro da plateia não contribuiu.

O show contou com a participação de outro rapper paulista, Ro Rosa para cantar a faixa Imprevisto, de autoria dos dois. No entanto, com pouco carisma, a postura de Ro se assemelha com a de Yago, e nada mudou na energia do show.
O bloco final foi um certo momento de redenção e as apresentações ficaram mais interessantes quando apresentou “Papoulas” e encerrou com “Linha Azul”. Mas é fato que o artista ainda tem muito a se desenvolver e aprimorar no palco antes de assumir lineups de festivais fora de São Paulo.
No encerramento da noite, chegou a atração mais aguardada: a cantora Liniker, com sua potente turnê “CAJU”. Já em um status elevado de popstar, o público vibrou intensamente com sua entrada no palco, e cantou com força as duas primeiras faixas, “CAJU” e “TUDO”. Essa energia foi mutuamente mantida no espetáculo, e foi lindo ver cada palavra de suas canções sendo cantadas com tanto fervor.
Liniker faz de tudo nesse show: dança, emociona e impressiona. O disco CAJU explora diversos gêneros e todos funcionam muito bem ao vivo, por isso que o show é tão surpreendente. Ela também é mestra na interação com o público, com pedidos de palmas, de movimentar o corpo e de formar um coro para acompanhar sua cantoria. Graças a isso, quem a assiste se mantém presente de corpo e alma do início ao fim.

Além disso, Liniker é o melhor tipo de estrela, porque dá espaço para todos da sua banda também brilharem. Tem solo de trompete, de trombone, de baixo, de cada um dos backing vocals, e Liniker coloca-os no holofote, levantando fortes aplausos para cada um deles. É muito interessante esse reconhecimento num show de uma turnê como CAJU, pois uma das grandezas do álbum reside justamente em suas tantas camadas instrumentais, então o destaque para os músicos é mais do que merecido.
A artista também mostra que, apesar do sucesso desmedido em seu último trabalho, seu repertório não é só o CAJU, e que muitos outros lançamentos anteriores abriram seu caminho e trouxeram a devida maturidade para estar onde está hoje. Nesse bloco, ela cantou “Sem nome mas com Endereço” e “Zero” do EP Remonta, e “Psiu” e “Baby 95” do Indigo Borboleta Azul, todas com um coro lindíssimo da plateia.
A apresentação de “POPSTAR” precisou ser interrompida devido a um desmaio na plateia, mas Liniker teve a melhor conduta que um artista pode ter nesses momentos: parou o show e deu as orientações ao público e aos bombeiros para acelerar os primeiros socorros e dar o melhor suporte ao fã. O show só foi retomado quando ela teve a certeza de que o fã enfermo estava encaminhado ao posto médico.
Com 1 hora e 40 minutos de show, o encerramento foi em altíssimo astral com “Deixa Estar”, e ainda deixou um gostinho delicioso de quero mais. Nesse show, Liniker não só mostrou ser digna de todo o sucesso que tem conquistado com CAJU, mas também merecedora de muito mais. Uma verdadeira estrela pop do Brasil, ela domina voz, dança e palco com maestria absoluta.
