A edição comemorativa do Festival Queremos começou com tudo: duas mulheres fenomenais da música, Luedji Luna e Yaya Bey, tomando conta do palco do Vivo Rio nessa noite de quinta-feira.
A artista nova-iorquina Yaya Bey trouxe seu brilhante e sensível R&B misto com hip-hop, e a surpresa da noite foi descobrir que ela é carisma puro. Yaya começou tímida no palco, mas seu corpo expressivo, sua voz dominante e a companhia de músicos de primeira linha fizeram o trabalho.
Numa troca sincera com o público, Yaya revelou que estava insegura com a primeira vinda para o Brasil, mas acabou se surpreendendo positivamente com a recepção calorosa. Como resultado, fomos presenteados com as primeiras apresentações de sua nova música “merlot and grigio” — quarta-feira em São Paulo, quinta-feira no Rio. A faixa faz parte de seu próximo álbum, com lançamento marcado para junho.
O repertório principal era seu último álbum Ten Fold (2024), mas sem deixar de lado as faixas de sucesso de Remember Your North Star (2022). Na apresentação de seu maior hit, “meet me in brooklyn”, a cantora pediu a participação do plateia na ajuda com o coro, e a conquista e o envolvimento foram mútuos.
— VOU DE GRADE (@midiasvdg) April 11, 2025
Embora nascida em Nova York, Yaya Bey tem origens afro-americanas e caribenhas, e não esconde seu envolvimento político com causas decoloniais. A artista fez um excelente e descontraído discurso sobre a necessidade de reparação histórica dos países colonizados, e brincou com o roubo das riquezas do Brasil por Portugal. Na música seguinte, a iluminação dos palcos até ficou com as cores do Brasil!
Já íntima da plateia mas infelizmente em clima de despedida, a artista discursou novamente sobre seu ódio ao sistema capitalista e a ditadura do trabalho — discurso esse devidamente aplaudido. A fala era uma introdução à última faixa do repertório, “iloveyoufrankiebeverly”, escrita justamente para expressar sua raiva diante do sistema. Foi uma honra recebê-la de tão longe aqui no palco do Vivo Rio.
E depois desse show, veio um verdadeiro espetáculo de Luedji Luna cantando Sade, difícil de pôr em palavras. Tudo fluiu maravilhosamente bem: presença de palco excepcional, voz hipnotizante, interpretação irretocável, repertório acertadíssimo e banda de fortíssimo calibre. Os elogios são infinitos.

Não havia preocupação com a recepção da música em si pois, para o público brasileiro, Sade significa uma série de hits que atravessam épocas, como é o caso de “Kiss of Life” e “Cherish the Day”. O destaque, no entanto, foi no aspecto finíssimo das faixas originais que Luedji Luna não só manteve, como ressignificou, com sua forte e graciosa identidade como intérprete e arranjos fascinantes de sua banda.
Luedji, totalmente à vontade e descalça no palco, rapidamente se mostrou a melhor pessoa para apresentar esse tão sonhado repertório de Sade. Nesse caminho, ela equilibra sua aura divina com a busca de conexão intensa com o público. Dessa vez, desceu do palco durante uma música inteira, passeou pela grade e cantou olhando no olho de cada um.
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Embora boa parte do público estivesse lá pelas músicas de Sade, é certo que Luedji Luna saiu de lá com uma nova legião de fãs encantados por quem ela é no palco. E aproveitando a oportunidade, algumas de suas músicas autorais também apareceram — foi o caso de “Salto”, emendada em sua favorita de Sade, “No Ordinary Love”, e “Acalanto”, misturada com “The Sweetest Taboo”.
A noite foi um sucesso, e encerrou com os maiores hits de cada uma: “Smooth Operator” de Sade, e “Banho de Folhas” de Luedji Luna. Os shows no Vivo Rio fizeram parte do circuito de 4 dias pela cidade promovido pelo Festival Queremos. Aliado à inovação, a curadoria de olhar e escuta sempre atentos aos destaques do mundo musical fizeram nascer essa maravilhosa edição que ainda tem muito a entregar.