Com 15 anos de jornada nas costas, O Terno se aproxima do fim — ou hiato indeterminado, como preferem chamar. Depois de rodar o Brasil com a turnê de despedida, o adeus ficou marcado para os palcos dos Coliseus em Portugal, e ontem (18/11), em Lisboa, foi escrito um belo capítulo de desfecho para a história da banda.
Portugal nunca escondeu seu apreço pela magia da música brasileira, então era de se esperar que uma das maiores bandas da cena indie rock contemporânea teria um público para chamar de seu, mesmo tão longe de casa. O Coliseu de Lisboa estava de casa cheia, e pode se despedir dessa banda tão especial, composta por Tim Bernardes, Guilherme d’Almeida e Biel Basile.
A entrada dos integrantes foi muitíssimo ovacionada, já abrindo com grandes canções do álbum <atrás/além>, com belíssimas apresentações e então agradecimentos pela recepção calorosa. Depois de uma introdução um pouco mais leve, foi hora de mudar o clima para entrada das guitarras em peso, e aqueles que acompanham as redes sociais da banda estavam mais atentos do que nunca…
Após indagações dos fãs, Tim fez um vídeo em seu Instagram falando sobre sua nova guitarra, a Regvlvs, elaborada por Cláudio César Dias Baptista (CCDB) nos tempos dos Mutantes, item raríssimo no Brasil e que agora está em ótimas mãos. Nesse show, todas as músicas com pegada mais rock foram apresentadas em altíssimo nível, e ainda demonstraram como os integrantes estavam à vontade ao se aventurarem nas versões instrumentais estendidas com efeitos de distorção hipnotizantes.
O show teve um certo aspecto intimista pelas interações da banda com o público, e nenhum dos integrantes escondeu a emoção de estar naquele palco. O disco <atrás/além> discorre sobre ciclos, sonhos e despedidas com uma sensibilidade ímpar, e ao cantar “Vou correr na direção daquelas tantas / Coisas lindas que eu anseio”, Tim soltou uma risadinha por estar vivendo a profecia autorrealizada desse grande sonho naquele momento.
A trajetória da discografia do Terno possui uma transição sonora bem demarcada, e no show foi visto de tudo um pouco. Entre fortes guitarras e sensíveis pianos, o repertório apresentado contou com o último disco completo, boa parte do penúltimo, e alguns resgates pontuais do começo da carreira, com destaque para “Morto”. As mais queridas pelos fãs portugueses são também as mais populares, e que tiveram sua vez mais para o final do show. Os sucessos “Volta e Meia” e “Culpa” mostraram a força do público e “Volta” emocionou cada um dos que estavam ali.
Não bastasse o evento ser especial por si só, também era aniversário de Biel Basile, baterista que nomeia uma das faixas do último álbum “Bielzinho/Bielzinho”, canção que celebra o talento do baterista e a sintonia do trio. Biel ganhou um coro enorme de parabéns e pode tocar bonito pela última vez nos seus 35 anos. Conforme o show se encaminhava para o final, a atmosfera ficava mais melancólica. Tim compartilhou reflexões sobre o fim desse ciclo como banda e todos os sonhos alcançados no caminho, e deixou também as letras de suas músicas falarem.
São vários os elementos que fazem a química da banda funcionar tão bem ao vivo, e isso traz um tom de lamento pelo fim dessa história, ao mesmo tempo que um prazer por presenciar esse encontro tão singular. É um misto de intimidade e parceria entre os membros, maestria absoluta sobre os instrumentos, e arranjos detalhados e cuidadosos perfeitamente reproduzidos ao vivo.
A despedida se deu com “Melhor do que Parece” e sua infinita repetição e, por fim, “66”, em que Tim foi para a frente do público sentir um pouco do calor e do carinho de quem tanto o admira. Mesmo com tantas incertezas diante do futuro, deu para viajar na nostalgia da banda que foi o marco de uma juventude, e aterrissar em paz sabendo que a missão de fechar (ou pausar) o ciclo do Terno de um jeito bonito e inspirador foi concluída com muito sucesso.