Relembre a passagem meteórica de Lady Gaga pelo Brasil e os melhores momentos
“Oi Galera” – A primeira passagem de Lady Gaga pelo Brasil
O espetáculo: The Born This Way Ball (2012-2013)
No início da década de 2010, o Brasil recebeu um boom de apresentações musicais das maiores divas Pop do momento. Somente no ano de 2011, recebemos apresentações de: Shakira, Katy Perry, Rihanna, Britney Spears, Kesha e, logo mais, seria confirmado o retorno de Madonna no ano seguinte. Mas faltava um nome específico que estava em alta; um nome que carregava uma legião de fãs e despertava ira de milhares de pessoas com seu jeito “extravagante” ou “estrambólico”
Após uma série de promessas e a confirmação de que sua próxima turnê seria a maior de sua carreira, foi apenas em 6 de agosto de 2012 que os fãs brasileiros receberam o deleite que sonhavam desde 2009: em exatos três meses, Lady Gaga desembarcaria para dois shows – que, mais tarde, se tornariam três – de sua Born This Way Ball, em 9, 11 (e 13) de novembro. A turnê de divulgação do álbum Born This Way (2011) incluía canções como Judas e Marry The Night, hits em território nacional, além de outros clássicos como Alejandro e Poker Face. Era o começo de uma passagem meteórica pelo Brasil.
Com ingressos variando entre R$ 190 e R$ 750, um valor corrigido para os dias atuais como algo entre R$ 375 e R$ 1450, os shows ocorreriam no Parque dos Atletas (Rio de Janeiro), Estádio do Morumbi (São Paulo) e Estacionamento da FIERGS (Porto Alegre) respectivamente.
O alto custo, por sinal, era majoritariamente devido à estrutura de palco: um castelo medieval automatizado que se transformava diante do público com escadas, passagens, luzes, portões e até mesmo “abria” como uma casa de bonecas: Gaga fazia questão que o espetáculo apresentado fosse o mesmo em todo mundo, sem reduzir qualquer estrutura.
(reprodução: Twitter/X)
Existia também, além dos setores comuns, a “Monster Pit”, uma área em frente ao palco, contornada por passarelas. Ela não podia ser adquirida, mas sim conquistada por mérito: dedicada aos fãs que chegassem cedo, desde que a partir das 8 da manhã do dia de cada show – uma regra ignorada pelos brasileiros – ou que estivessem trajados de maneira criativa para o “baile”. Quase todas as noites, Gaga selecionava fãs diretamente do Monster Pit para subirem ao palco durante o show e, consequentemente, ganhavam um encontro inesquecível no backstage, sem qualquer custo adicional.
Chegada ao Brasil
Foi em 7 de novembro que a própria anunciou sua chegada em terras brasileiras. Após ser flagrada desembarcando no aeroporto Galeão, no Rio, ela seguiu de Helicóptero até próximo do hotel, aproveitando um passeio panorâmico sobre a cidade. Da sacada do hotel Fasano, ela posou, jogou flores, cumprimentou os fãs e seguiu para piscina, com mais acenos e sorrisos.
OI GALERA! In Rio + My beautiful fans are wearing leather & bandanas in the sun, bad asses, gorgeous smiles & fists in the air! I HEAR U!
— Lady Gaga (@ladygaga) November 7, 2012
OI GALERA! No Rio + meus lindos fãs estão vestindo couro e bandanas no sol, rebeldes, lindos sorrisos e punhos no ar! EU ESCUTO VOCÊS.
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Para cerca de 200 fãs fervorosos que aguardavam na porta do hotel, os esforços foram recompensados: lanches completos do McDonald’s com bilhetes “de: Lady Gaga, para: meus Little Monsters”. Mais tarde, a faixa I <3 RIO (“Eu amo Rio”) foi instalada na sacada do quarto para deleite dos que assistiam. Durante toda tarde os fãs cantaram, gritaram e causaram na área nobre de Ipanema enquanto a cantora aproveitava das instalações do hotel.
Na manhã seguinte, dia 8 de novembro, foram realizados alguns dos cliques mais icônicos da passagem pelo Brasil. Primeiro, de cabelos rosa, apareceu posando com uma camisa oficial da seleção brasileira, antes de sua comitiva seguir em direção ao Morro do Cantagalo. Para os fãs que continuavam acampados na porta do hotel, muitos sem ingresso para qualquer um dos shows, o cardápio foi Pizza, também acompanhada de bilhetes. De Gaga, aos monstrinhos.
No morro do Cantagalo, Gaga visitou projetos sociais, cantou, tirou fotos, jogou futebol descalça com as crianças, posou de moto-táxi e parou num boteco, onde tomou cerveja em copo-americano, servindo um dos “memes” mais repercutidos entre os fãs.
De noite, ela seguiu para uma churrascaria na zona sul junto de sua equipe da turnê em preparação e comemoração ao show no dia seguinte.
Finalmente chegava o aguardado dia 9 com o primeiro show no Brasil, no Rio de Janeiro. Debaixo de chuva, Gaga se emocionou com calor dos fãs e declarou – Eu nunca estive tão contente quanto nesse momento – com lágrimas nos olhos, acompanhada de fãs que havia selecionado do Monster Pit.
Os brasileiros fizeram bonito, surpreendendo a cantora que embalou na energia do público: cantou o nome dos fãs durante apresentação de Alejandro, surpresa organizada pelos fãs que levantaram plaquinhas com seus nomes.
Gaga ainda retornou ao palco após a última música para uma apresentação da inédita “Cake Like Lady Gaga”, vestindo camisa da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Uma modificação constante nos shows do Brasil foi a exclusão do uso de armas cenográficas ao longo do espetáculo, substituindo por outros items de menor violência em homenagem ao trabalho pacificador realizado nas comunidades.
No dia seguinte do show, 10 de novembro, Gaga foi flagrada num estúdio de tatuagem onde consolidou sua paixão e empolgação com público brasileiro: tatuou “R✝O” na parte inferior da nuca. Não perdeu tempo e publicou a foto com legenda Rio Of God para todos os seguidores do Instagram, deixando muito gringo com inveja.
Ela contou, anos depois, que cada letra da tatuagem foi feita por um jovem diferente enquanto visitava o Cantagalo, tudo escrito num guardanapo e repetido pelo tatuador. Em 2020, Daniel Tucci, responsável pela tatuagem, fez uma postagem no Instagram relembrando o encontro
O resto do dia foi para descanso. Enquanto isso, os fãs se organizavam para o segundo show, em São Paulo. Uma multidão também se espalhava pela cidade, pelos diversos hotéis de luxo, aguardando ansiosamente pela chegada da cantora vinda de terras cariocas, que deixou claro – off to Sao Paulo (em direção à São Paulo) – numa segunda publicação no dia 10. Sem muito alarde, apareceu, tarde da noite, uma última vez na sacada do Fasano como despedida.
Os paulistas, porém, não tiveram tanta sorte; Gaga não deu pinta, despistando mais de 300 fãs que passaram o sábado plantados em frente ao hotel Tivoli, onde se descobriu por fim que estaria hospedada, esperando uma palinha do que os fãs do Rio vivenciaram.
Mas uma história curiosa que muitos não sabem: ela supostamente chegou em São Paulo cerca de meia-noite do dia 11 de novembro, dia do próprio show na cidade, mas seguiu para uma boate privada em vez do quarto de hotel. Lá, ela gravou o que se tornou o filmete “Cake”, que na época disse ter gravado apenas em seu quarto de hotel. Uma dica que corrobora com essa narrativa? O armário de parede, com propaganda da marca Dom Pérignon!
Presente no show do dia 11, em São Paulo, estava esse que vos-escreve e pode detalhar um pouco melhor os acontecimentos. O tempo mais ameno permitiu que alguns fãs fossem mais ousados com suas vestimentas, e foi com a apresentação de São Paulo que surgiu um dos anais da internet do velho testamente: filadagaga.tumblr.com, reunindo alguns dos looks mais icônicos de toda turnê.
O tempo era instável naquele 11 de novembro: muito sol durante o dia, mas com a previsão de pancada de chuva pela noite, o que deixava um ar de suspense no ar. No Estádio do Morumbi, as filas pareciam não ter fim, quilométricas. Havia relatos de que, às 5h da manhã, as pulseiras para a Monster Pit já haviam acabado (lembram que eu disse que essa regra não existia para os brasileiros?). A energia dos fãs, porém, era contagiante. Em meio a fantasias elaboradas, sorrisos ansiosos e cantorias improvisadas, era possível sentir a expectativa crescendo a cada minuto. Até os tradicionais ambulantes pareciam contagiados pela atmosfera, alguns até entrando no espírito da coisa: ‘Alejandrinhos, Alejandrinhas, querem cerveja? Quem quer uma cerveja gelada?’ – Tudo pelas vendas.
Os portões se abriram por volta das 16h com sol sem dar trégua, mas com muito, MUITO, vento. Vento suficiente para derrubar parte da estrutura do primeiro ato de abertura, Lady Starlight, amiga íntima de Gaga desde antes da fama, que apresentava uma performance artística para o público, que não entendia muito bem, mas aplaudia com gosto e respeito. O estádio não demorou para encher, mesmo com a mídia constante sobre os “ingressos encalhados”, o show alcançou mais de 40 mil pagantes e deixou o atual “Morumbis” muito bem distribuído.
O segundo ato de abertura foi a banda The Darkness, donos do hit “I Believe In A Thing Called Love” que foi quando o público teve alma lavada: um dilúvio caiu sobre o estádio, mas não desanimou quem batia palma sem perder ritmo e obedecia aos comandos. A verdade era que todos estavam ansiosos e nada podia parar o que estava prestes acontecer.
Às 21:00, cortinas caíram e o castelo medieval ficava exposto por completo ao público. Muitos gritos enquanto tudo de iluminava e, por uma portinhola no canto esquerdo, Gaga adentrava ao palco montada num unicórnio mecânico, guiado por todo seu ballet.
Em São Paulo, a emoção foi mais contida, mas não menos intensa. Aqui, a pedido dos fãs, ela cantou “Princess Die” (faixa nunca lançada oficialmente) e, ainda mais especial, tivemos a primeira performance de “The Queen”, faixa presente na edição estendida do álbum Born This Way. Os elogios não paravam e, já falando sobre o ARTPOP, que seria lançado exatamente 1 ano após o show, ela comentava sobre inspiração suficiente para escrever um milhão de canções diante o que vivenciou no Brasil.
E então, as duas horas de show se passaram como num piscar de olhos. Da mesma maneira que entrou ao palco por uma pequena passagem, Gaga desaparecia com um elevador na ponta das passarelas, deixando público extasiado se havia sonhado ou vivenciado tudo aquilo frente a frente.
Um pouco de sorte tiveram aqueles que conseguiram aparecer no Tivoli Hotel na segunda-feira pós-show, onde Gaga deu as caras para um grupo pequeno de fãs. Tirou fotos e seguiu adiante, sem deixar muitos rastros ou explicações. Logo ela seguiu para o Rio Grande do Sul, onde faria o último show da digressão em solo brasileiro
Em Porto Alegre os registros foram ainda mais escassos, com uma quantidade reduzida de fãs disponíveis e o fator agravante de que era um dia de semana, mas o show rendeu uma bela surpresa: um dueto com uma fã de 13 anos durante a canção “You and I”, impressionando a nova-iorquina e o público.
Depois do Brasil, a digressão seguiu pelo resto da América do Sul com shows na Argentina, Chile, Peru e Paraguai. Meteórica, como descrito lá em cima, por ser a última aparição de Gaga nesse lado do hemisfério sul, mas deixando um rastro que vive até hoje no imaginário de todos aqueles que presenciaram.
Para aqueles que gostam de estatísticas, algumas curiosidades sobre a passagem da turnê pelo Brasil: O show em São Paulo, no Morumbis, foi o quinto maior em público (43.137) e a terceira maior arrecadação em dólares ($ 4.293.859) para um único concerto da turnê, ficando em sexto lugar para arrecadação geral entre os 98 shows que ocorreram entre 2012-2013. Teve também a setlist mais longa, com a inclusão das citadas Princess Die e The Queen; O público total no Brasil foi de 79.222 pessoas, o maior da América Latina e o quinto maior em relação aos 5 continentes visitados pela digressão.
“Brazil, I’m devastated” – Ela não vem mais!
Após 5 anos, a cantora faria seu retorno ao Brasil no primeiro dia do Rock in Rio 2017, em 15 de setembro, num show esgotado para 100 mil pessoas, mas infelizmente precisou cancelar sua apresentação cerca de 24 horas antes do início do evento devido a uma crise de fibromialgia, doença crônica que causa espasmos e crises de dor por todo o corpo, impossibilitando qualquer tipo de apresentação. A doença também acabou causando cancelamento da leg europeia da “Joanne World Tour” em 2018.
Brasil, eu estou devastada que não estou bem o suficiente para vir ao Rock In Rio. Eu faria tudo por vocês, mas agora preciso tomar conta de meu corpo. Eu peço por sua graça e compreensão, e prometo que vou retornar e performar para vocês em breve. Me desculpem, amo vocês.
Segundo Zé Ricardo, vice-presidente artístico da Rock World produtora do festival, a banda de Lady Gaga estava em passagem de som quando foi informada que a cantora não poderia embarcar para o Brasil. Nos dias anteriores ao festival, existiram vídeos com teste de palco e suas músicas, fotos do equipamento sendo descarregado no Rio e até membros da equipe mencionando a ansiedade em retornar ao Brasil.
Em sua carta adereçada ao Brasil, responsável pelo notável “Brazil, I’m devastated”, a cantora prometeu retornar “em breve”. Apesar da demora, pelo menos ela garantiu um retorno especial nas areias de Copacabana, ou melhor, “Gagacabana.” Agora é Todo Mundo no Rio!
Bibliografia
https://oglobo.globo.com/cultura/megazine/lady-gaga-joga-flores-lanches-aos-fas-6659721
https://ladygaga.fandom.com/wiki/2012/November#November_7
https://www.rdtladygaga.com/2024/09/roberta-medina-fala-sobre-a-vinda-de-lady-gaga-ao-rock-in-rio